Uma maneira simples de explicar a subvocalização ou voz mental é fazendo uma analogia com o aprendizado de outro idioma. Quando alguém está lendo algo em outro idioma – em inglês, por exemplo – é muito comum traduzir as palavras que lê em sua mente. À partir daí, é possível pegar o significado de cada uma dessas palavras em sua língua natal e, finalmente, internalizar o conteúdo. Você já deve imaginar que esse processo não é o ideal, mas é bastante frequente, principalmente para quem ainda não é fluente nesse outro idioma. 

Agora tente reparar em como está lendo esse artigo. Se você é como a imensa maioria das pessoas, está ecoando cada uma dessas palavras em sua mente. Isso é a subvocalização ou voz mental. Só à partir daí que você atribui um significado para as frases.

“Você está, na prática, traduzindo o texto do português para o português, repetindo tudo que está escrito em sua mente para conseguir absorver o significado. Isso é a Voz Mental” 

Jorge Weigmann

E qual o problema?

Para internalizar o conteúdo, essa repetição mental ajuda muito. Mas se você depender somente dela, a sua velocidade de leitura será limitada pela sua velocidade de fala!

Uma curiosidade que ajuda a deixar isso claro: nossa velocidade de fala varia de 80 a 250 (extremos) palavras por minuto. É por isso que a velocidade média de leitura de uma pessoa (que nunca praticou técnicas de leitura) também varia entre esses extremos! Afinal, se você está falando em sua mente tudo que lê, sua velocidade de leitura máxima será o quão rápido consegue repetir essas palavras. E por que fazemos isso? Isso está diretamente conectado à forma que aprendemos a ler…

De onde vem a Voz Mental (subvocalização)?

Nós fomos ensinados a usar a voz mental na leitura. Não nascemos nem sabendo ler, muito menos a subvocalizar na leitura. Mas faz tanto tempo que fazemos assim que nem pensamos mais nisso.

Aprendemos que as sílabas formam sons, e esses sons juntos formam uma palavra. E aprendemos também que só atribuímos significado a essa palavra quando ecoamos o seu som em nossa mente. E para aquele momento da nossa vida, foi importante aprender dessa forma. Mas nunca mais falamos disso com ninguém… 

Quando eu estava no ensino fundamental, uma atividade que eu lembro muito bem era quando o professor me mandava ler parágrafos de um texto. Aí o texto ia passando de aluno para aluno, que também tinha que ler em voz alta. Você também tinha que ler em voz alta na escola? Esse é só um exemplo de como reforçamos esse mecanismo de “falar tudo que lemos” durante toda a vida. Inclusive, algumas pessoas tem isso tão enraizado que chegam a falar ou mexer lábios ou língua (vocalização).

É assim que surge esse veneno da leitura!

Então temos que acabar com ela?

Não! A voz mental é muito importante em diversos momentos. Mas nós que temos que controlá-la, e não o contrário. Ela é parte essencial da nossa vida, e uma ajudante valiosa na hora de refletirmos, elaborarmos ideias e conceitos ou de decorarmos algo. Ou seja, não só não é possível acabar 100% com a subvocalização, como nós nem queremos isso! Ela é nossa aliada, desde que saibamos utilizá-la a nosso favor. Por isso, diferente dos outros venenos da leitura, nosso objetivo não é acabar com a voz mental, mas dominá-la.

Como dominar a Voz Mental (subvocalização)

  1. Reduza a ansiedade antes de ler
  2. Leia mais rápido
  3. “Fale” algo em sua mente enquanto lê

Antes de chegarmos no como, é essencial entender que é possível sim dominar a voz mental (e que já fazemos mais isso do que imaginamos!).

Quando estamos andando de carro e vemos uma placa com o número 80, nosso cérebro entende algo mais ou menos assim: “A velocidade máxima permitida nessa via é de oitenta quilômetros por hora”. Nós temos uma capacidade tremenda de entender significados de símbolos e números. Mas, por não termos sido ensinados assim, não transpomos essa habilidade para a leitura.

Placa de trânsito: Interpretamos símbolos sem a subvocalização ou voz mental
Quando vemos símbolos não precisamos usar a Voz Mental

Até porque esse não seria um processo simples e fácil. Provavelmente faz décadas que você lê da mesma forma (e sempre com essa subvocalização). É por isso que se desenvolver nesse aspecto exige bastante prática e dedicação. Em minha caminhada por uma relação melhor com a leitura, essas são as 3 maneiras mais efetivas que encontrei de dominar a voz mental:

1. Reduza a ansiedade antes de ler 

Quando não controlamos a voz mental, ela é um convite constante à divagação. Principalmente quando não está relacionada à leitura, essa divagação nos prejudica muito e dá aquela sensação de que a leitura não rende.

Por isso, estar de fato presente na leitura é essencial! E cuidar com a ansiedade antes de começar a ler pode ser uma maneira bem simples de ajudar nesse ponto. É normal estarmos ansiosos ou preocupados, principalmente quando deixamos para ler no fim do dia (quando todos os problemas do dia-a-dia já nos atingiram). Mas você pode fazer coisas que funcionem para você logo antes de começar a ler, como respirar fundo, meditar ou tomar uma ducha. Nesse post eu dou dicas de mudanças-chave de comportamento que ajudam nisso!

2. Leia mais rápido 

Ler mais rápido é uma boa alternativa tanto para vencer a voz mental (e outros venenos da leitura). O segredo aqui é que ler mais rápido por si só não será o suficiente, pois ler rápido da forma que normalmente aprendemos – ou seja, “traduzindo” e ecoando tudo que lemos em nossa mente – não será o suficiente. Mas lembre-se que, quanto mais rápido você ler, mais difícil será para sua voz mental te acompanhar.

Técnicas de leitura como a “divisão em pedaços” (quando você lê pedaços de uma linha inteiro, ao invés de palavra por palavra) ajudam muito nisso!

3. “Fale” algo em sua mente enquanto lê 

Enquanto estiver se forçando a pensar em outra coisa que não nas palavras que está lendo, você vai eliminar por completo a subvocalização. Pode ser uma cor, um objeto… Tanto faz! O importante é não deixar seu cérebro repetir tudo que está lendo.

É claro, porém, que estará causando outro problema. Afinal, você não conseguirá absorver nada do conteúdo que acabou de ler. Mesmo assim, esse exercício é muito válido, pois nos ajuda a entender que nossa velocidade de reconhecer as palavras é muito maior que nossa velocidade de processá-las. E você pode evoluir essas duas habilidades separadamente.

Essa dica é só uma sugestão de exercício que vai te mostrar como o ato de ler em si (passar os olhos pelas palavras) e a internalização do conteúdo (que hoje você só faz com a voz mental) são coisas distintas. E com muito prática, você vai reparar que consegue internalizar algumas partes do texto mesmo sem subvocalizar.

E agora?

Diferente dos outros venenos da leitura, assumir um compromisso consigo mesmo não vai ajudar muito a combater a subvocalização. E é muito provável que, ao parar de praticar, você aos poucos retorne para um uso excessivo da Voz Mental. O segredo é o treinamento e é um processo de evolução constante!

Caso queira ajuda nessa jornada para se tornar um leitor cada vez melhor e eliminar a subvocalização, recomendo esse curso onde explico e ajudo a construir o Hábito de Leitura (tão essencial para dominar a voz mental).


18 comentários

Pietro Oliveira · 2 de setembro, 2020 às 01:35

O único maléfico da subvocalização é a redução da velocidade da leitura, então?

    Jorge Weigmann · 2 de setembro, 2020 às 20:35

    Oi Pietro!

    Não só a velocidade, mas todos os pontos de uma boa leitura passam pela voz mental. Divagar e ter dificuldade de absorver o conteúdo, por exemplo, também são problemas que você terá se não dominar a voz mental. Tudo acaba se entrelaçando, e eu divido para simplificar a explicação e ajudar a mostrar que essas questões existem e são importantes de serem trabalhadas.

      PEDRO OSVALDO · 5 de setembro, 2022 às 01:23

      Leitura veloz e contaste elimina a subvocalizacao

christian · 18 de março, 2021 às 05:15

Esse post mudou minha vida para sempre!!!

    Jorge Weigmann · 4 de junho, 2021 às 21:05

    Que legal Christian! Muito obrigado por compartilhar!

Josiane · 19 de junho, 2021 às 21:01

Sensacional essa informação, acredito que mudará minha vida! Já comecei a ler mais rapido e a entender o que leio já nesse post e vi que é possível, obrigada! Obrigada!

    Jorge Weigmann · 23 de junho, 2021 às 16:59

    Fico muito feliz de saber, Josiane! Muito obrigado por compartilhar!

Jhony Wilian · 4 de julho, 2021 às 05:43

Não sei porque assistindo filmes, séries e animes consigo ler sem subvocalizar e em livros não consigo. Alguém sabe como resolver isso de forma rápida? Eu já consigo em um, mas não consigo no outro.

    Jorge Weigmann · 16 de julho, 2021 às 16:15

    Oi Jhony! Essa sua observação é fantástica! Existem alguns motivos para isso acontecer. Entre eles estão o fato de que você normalmente está totalmente imerso no contexto durante um filme ou série (o que facilita a redução da subvocalização) e o fato de que você está com a atenção totalmente presa na televisão (pois o filme muda constantemente e exige essa atenção). Sobre resolver isso de forma rápida, infelizmente não existe atalho… mas com prática e disciplina posso te garantir que é possível!

Carlos Eduardo · 21 de outubro, 2021 às 05:07

Quando elimino a voz mental durante a leitura e procura aumentar a velocidade, ao final da leitura, eu não compreendi absolutamente nada… Parece que só fiz deslizar frases nos meus olhos…. Eu não consigo entender esse método… Quando eu associo a leitura rápida com a compreensão da palavra que estou lendo, minha retenção melhora.

    Jorge Weigmann · 23 de novembro, 2021 às 16:13

    Oi Carlos! Tudo bem?
    É bem normal no começo não retermos nada ou quase nada quando aumentamos a velocidade. São décadas lendo de uma maneira, e mudar essa maneira leva tempo (principalmente se fizermos sem orientação).
    Mas com dedicação e disciplina é possível melhorar demais sua leitura! Espero que você encontre artigos e vídeos que te ajudem aqui na Leitura Orgânica.

Michael · 24 de outubro, 2021 às 01:59

Então a voz mental é só pra tomar decisões, muitas pessoas que chama isso de inferno, na infância ficavam feliz em conversar com ela, dizia que era seu melhor amigo. Enfim a hipocrisia da humanidade ksksksk

    Jorge Weigmann · 23 de novembro, 2021 às 16:19

    Oi Michael!
    Na minha visão a voz mental não é só para tomar decisões. Desde “ouvir” as vozes dos personagens até te fazer refletir em algum tema, a voz mental pode ser uma grande aliada (como era na infância)! Mas precisamos saber como “domina-la” ao invés de sermos dominados por ela.

Jorge Augusto · 23 de fevereiro, 2022 às 05:39

Olá!

Existe algum profissional que possa nos ajudar a lidar com esses aspectos, por exemplo, um fonoaudiólogo ou psicólogo? Pesquisei rapidamente, não achei. Parabéns pelo site!

    Jorge Weigmann · 25 de junho, 2022 às 21:33

    Oi Jorge!
    Não sei qual profissional poderia te ajudar diretamente com isso. Mas com certeza esse caminho de se aprofundar e buscar ajuda vai te trazer bons resultados! Parabéns pelo empenho em evoluir!

Vitor · 5 de janeiro, 2023 às 17:42

Adorei o post, vou praticar !!
Obrigado por dividir esse material

Leitura Dinâmica x Leitura Orgânica: 3 diferenças - Leitura Orgânica · 14 de agosto, 2020 às 21:23

[…] Voz Mental (subvocalização) é aquela voz que ecoa na sua mente enquanto você está lendo (você pode ler mais sobre isso aqui). E enquanto você depender dela na sua leitura, sua velocidade de leitura sempre será, no […]

O que te impede de ler mais: os 5 Gargalos na Leitura - Leitura Orgânica · 18 de agosto, 2020 às 03:52

[…] é o gargalo mais difícil de ampliar. Você precisa dominar alguns conceitos fundamentais, como a Voz Mental (subvocalização) e a importância do Contexto. E mesmo assim o Processo Cognitivo pode variar muito de leitura para […]

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