Internalizar o conteúdo é uma das maiores dificuldades da leitura. Se você mal consegue se lembrar do que acabou de ler, quem dirá aplicá-lo na prática. É por isso que reter o conteúdo é tão importante e aqui vamos te ajudar a desenvolver essa habilidade. Antes de tudo só quero deixar claro o que você pode (e não pode) esperar desse artigo: não vou te pedir para fazer mapas mentais, nem para anotar o aprendizado de cada página do livro no Evernote (é claro que isso ajuda, mas você já sabe disso); também não vou te ensinar a recitar o que o autor falou no segundo parágrafo da página 22. Isso seria decorar, e não é para isso que estamos aqui.
Decorar x Internalizar o conteúdo
Para começar, acho importante deixar clara essa diferença. Muitas pessoas tem a expectativa de que ao desenvolver a memorização, vão conseguir lembrar de cor de frases específicas ou em que página do livro está aquele parágrafo.
Isso seria decorar o livro e (com raras exceções de pessoas com memórias fotográficas) não existe na prática. Mas o melhor de tudo é: não é isso o que a gente quer! O que queremos realmente é aprender o conteúdo da leitura e aplicá-la nas nossas vidas. É isso que chamo de Internalizar o Conteúdo.
Se você já estudou sobre memorização, provavelmente já ouviu o termo retenção de conteúdo. Aqui você pode entender como um sinônimo, mas vou te explicar porque prefiro o termo Internalização. Enquanto retenção dá a entender que só vamos saber de algo enquanto “segurarmos” aquele conteúdo (ou seja, enquanto ficarmos retendo ele), com a Internalização quero passar a mensagem de que você vai conectar o conteúdo com algo que já sabe e com outros que ainda irá aprender, que isso fará parte de você e que não precisará mais de um esforço consciente (depois de certo tempo).
O Pioneiro no Estudo da Internalização de Conteúdo
Para começar, precisamos falar de Hermann Ebbinghaus. Ele foi pioneiro no estudo da memorização, que até então se baseava na psicologia descritiva (por observação). Ebbinghaus, por outro lado, utilizava a psicologia experimental, e se sujeitou a diversos experimentos que foram mais tarde a base de suas descobertas e de suas publicações. Entre essas descobertas estão a Curva de Esquecimento e a Curva de Aprendizagem. Vou falar sobre elas porque ajudam a embasar tudo que vamos conversar daqui pra frente:
Curva do Esquecimento
A Curva de Esquecimento deixa claro que, com o tempo, vamos esquecendo o conteúdo que acabamos de adquirir. No experimento, passados 6 dias ele se lembrava de apenas 25% do que memorizou no primeiro dia (curva vermelha). Mas essa curva do esquecimento era suavizada toda vez que ele revisava o conteúdo (curvas verdes). E cada vez mais o tempo entre uma revisão e outra podia ser maior.
Essa é nossa lição com a curva de esquecimento: se mantivermos um contato com o assunto, a tendência de internalizá-lo fica cada vez maior!
Curva de Aprendizagem
Ebbinghaus também cunhou o termo Curva de Aprendizagem e demonstrou como ela funciona em seu experimento. Dependendo da atividade, o aprendizado pode ser rápido no início e suavizar com o tempo (como se começasse do meio da curva do gráfico). Mas existem casos em que o aprendizado é lento e vemos pouco resultado, e só com o tempo ele cresce de forma exponencial (exatamente como no gráfico).
Aqui vale a pena recordar o Vale da Desilusão na formação de um novo hábito. Não vemos o resultado em pouco tempo e muitas vezes acabamos cedendo e ficando no Vale da Desilusão. Muito do nosso aprendizado, por sua vez, se dá da mesma maneira (principalmente assuntos mais complexos)! Como demoramos a colher resultado desse conhecimento, desistimos de evoluir nele antes que o seu crescimento possa ser exponencial.
E tanto para não esquecer quanto para aprender mais rápido, precisamos nos inserir no Contexto do que estamos aprendendo.
O Poder do Contexto
Uma das palavras mais importantes de uma boa leitura (e boa memorização) é o Contexto. Na Leitura Orgânica, chamamos de Contexto tudo que está ao redor e relacionado à temática que você está lendo. Nesse sentido, o Contexto agrega tanto em velocidade de leitura (pois você consegue assimilar mais rápido e até prever o que acontece ao longo do texto, além de ter maior conhecimento do vocabulário desse tema) quanto em internalizar o conteúdo (pois você já tem mais conexões que reforçam o que está lendo, uma “cadeia de conhecimento” que te ajuda a guardar as informações).
É fácil vermos na prática o contexto funcionando: você deve conhecer ou ter ouvido falar de pessoas que leram o 7º livro do Harry Potter (com 703 páginas) mais rápido que vários livros com menos de 200 páginas (como essa menina que leu em 26 horas). Agora repare na paixão dessa leitora pelas personagens e pelo enredo da história… Ela sabia o contexto na ponta da língua, é quase como um superpoder na leitura. É o poder do Contexto.
No próximo artigo você vai ver como utilizar toda essa teoria na prática: tudo o que você pode fazer para ter contexto antes, durante e depois da leitura, para vencer a curva do esquecimento e hackear a curva da aprendizagem!
Esse é o primeiro post da série Como não esquecer o que você leu. Para ler o próximo, clique aqui.
3 comentários
Curso Online · 19 de abril, 2021 às 19:46
Sou a Marina Almeida, gostei muito do seu artigo tem
muito conteúdo de valor parabéns nota 10 gostei muito.
Como não esquecer o que você leu: 7 dicas práticas - Leitura Orgânica · 4 de agosto, 2020 às 00:47
[…] por trás da internalização do conteúdo. Caso ainda não tenha visto, recomendo que você leia esse post. E agora vou te passar 7 dicas que eu aplico nas minhas leituras e que você vai poder aplicar nas […]
Os 4 princípios por trás da Memorização - Leitura Orgânica · 11 de setembro, 2020 às 00:21
[…] exposto repetidamente a um conhecimento nos faz aumentar muito a chance de internalizá-lo. Vimos nesse artigo como funciona a curva do esquecimento, que deixa evidente como a repetição ajuda a evitar o […]