No post anterior você entendeu como um hábito pode impactar todas as áreas da sua vida. Isso é estimulante, nos faz querer cultivar as boas mudanças de hábitos! Mas o caminho normalmente é longo e tortuoso… como não ficar pelo caminho?
O Platô do Potencial Latente
Imagine que você está em uma sala fria, a -8ºC. Você está sentado e repara na fumacinha saindo da sua boca. Na mesa a sua frente tem um cubo de gelo e, ao fundo, você vê um termômetro que mostra a temperatura da sala. Aos poucos você vê a temperatura subir: foi para -5ºC. Depois subiu de novo, para -3ºC. Mesmo com essas mudanças, você vê o cubo de gelo ainda intacto na sua frente. A temperatura continua subindo: -2ºC, -1ºC. E o gelo continua ali. E agora você vê 0ºC. Em pouco tempo, o gelo começa a derreter, e uma leve camada de água começa a surgir na mesa.
As mudanças de hábitos passam por um processo similar: por muito tempo nós nos esforçamos (como a temperatura que ia subindo), mas não vemos o gelo derreter e, por isso, desistimos. O Platô do Potencial Latente é justamente o ponto em que os resultados excitantes e animadores começam a aparecer (é quando o gelo começa a derreter). Só que esse resultado não é linear, como normalmente imaginamos. O gelo não derreteu aos poucos, conforme a temperatura foi aumentando. Ele só passou a derreter quando atingiu 0ºC, e dali derreteu rapidamente. É uma curva exponencial:
O Vale da Desilusão das mudanças de hábitos
A diferença entre o que achamos que vai acontecer (resultado rápido) e o que realmente acontece (resultado começa lento e depois vem) é o que James Clear chama de Vale da Desilusão (Valley of Disappointment).
Imagine o processo de crescimento de um bambu: durante os primeiros cinco anos, ele mal pode ser visto. Fica construindo seus sistemas de raízes no subsolo que comportarão seu crescimento Futuro. Mas durante esses anos, ele está vivendo no Vale da Desilusão: trabalhando muito (cinco anos só construindo raízes!) e não vendo nenhum resultado (não está crescendo). Até que ele irrompe do solo e atinge aproximadamente 25 metros em apenas seis semanas. Ele superou o Vale da Desilusão.
E superar esse vale é seu grande objetivo na construção de um hábito. Como vimos antes, as mudanças de hábitos acontecem quando a “deixa” (gatilho) estiver gerando o anseio pela “recompensa” por si só (lembre-se do ciclo do hábito).
Agora que você conheceu o Vale da Desilusão, vamos conversar sobre uma sabedoria convencional que pode estar te atrapalhando muito nas mudanças de hábitos: as Metas (!)
Metas ou Sistemas: como alcançar as mudanças de hábitos
Sei que pode parecer um sacrilégio dizer que as metas são um problemas nos dias atuais. Afinal, elas são a razão do sucesso das pessoas que mais admiramos! Mas… será que são mesmo?
Já parou para pensar que vencedores e perdedores tem as mesmas metas? Ou você acha que o corredor que chegou em 6º não queria ter chegado em 1º? A diferença está no sistema para alcançar essa meta, e não na meta em si.
Meta se refere ao resultado que você quer alcançar. Sistema se refere aos processos para alcançar esse resultado. Enquanto a meta do treinador é ganhar o campeonato, seu sistema passa por contratar jogadores, treiná-los, cuidar da alimentação e conversa sobre estratégia. A meta pode servir como um guia para que você crie seu sistema, mas ela é extremamente negativa se te fizer esquecer do sistema. A meta tem alguns problemas bem evidentes, mas que nós insistimos em não perceber.
Os Problemas das Metas
- Meta é uma solução temporária do problema
- Metas restringem a felicidade
- Metas estimulam o efeito “iô-iô”
1. Meta é uma solução temporária do problema
Por exemplo, as metas (muitas vezes) só solucionam o problema de maneira temporária e não geram mudanças de hábitos. Para entender isso é só lembrar daqueles momentos em que você tem um ímpeto de limpeza! Você usa uma motivação e esforço momentâneos e limpa a casa. De fato, você cumpriu a meta! Apenas para ver a casa toda bagunçada novamente, um ou dois dias depois…
2. Metas restringem a felicidade
Outro problema é que as metas restringem a felicidade. Isso acontece porque elas criam uma sensação de “Ou-Ou”: Ou atinjo a meta e sou feliz, Ou não atinjo e sou um fracasso. Além disso, a felicidade passa a ser um marco (a meta) e não dura por muito tempo. Assim, o difícil processo de criar um hábito fica ainda mais difícil. O Sistema, por sua vez, nos faz feliz se estivermos executando o processo que nos leva ao resultado.
3. Metas estimulam o efeito “iô-iô”
Por fim, a meta tem uma característica “iô-iô”. Um corredor se preparando para uma maratona deixa de treinar depois do dia da prova, e perde o seu avanço. Nesse sentido, a meta pode ir contra (!) o progresso: ou seja, se manter no processo (Sistema).
Metas exigem esforços repetitivos por um longo tempo para serem alcançadas. Isso quer dizer que o ponto da meta não é a meta em si, mas os hábitos que ela vai te ajudar a formar. Ou seja, nosso objetivo não é ler 40 livros (meta), mas sim desenvolver o hábito da leitura e ser um leitor cada vez melhor (sistema)! Lembre-se: você não quer atingir uma meta. Quer se tornar a pessoa que consegue atingí-la!
Caso queira ajuda nessa jornada para criar ou recuperar o hábito de ler, recomendo esse curso onde explico e ajudo a construir o Hábito de Leitura.
Esse post foi embasado nos livros O Poder do Hábito, Indistractable e Hábitos Atômicos e complementado com outras pesquisas relevantes e exemplos pessoais. Esse é o terceiro post da série Como Criar o Hábito da Leitura. Para ler o próximo, clique aqui.
4 comentários
Hábitos Angulares: um hábito pode mudar sua vida - Leitura Orgânica · 2 de julho, 2020 às 16:19
[…] Esse post foi embasado nos livros O Poder do Hábito, Indistractable e Hábitos Atômicos e complementado com outras pesquisas relevantes e exemplos pessoais. Esse é o segundo post da série Como Criar o Hábito de Ler explicando tudo que você precisa para criar o hábito de ler. Para ler o próximo, clique aqui. […]
Como Criar o Hábito de Ler: hackeando o loop do hábito - Leitura Orgânica · 2 de julho, 2020 às 17:11
[…] post anterior terminamos toda a teoria por trás da formação e das mudanças de hábitos. Agora vamos de fato […]
Como ler mais livros: as 5 mudanças-chave - Leitura Orgânica · 30 de julho, 2020 às 23:57
[…] vai precisar “se forçar” ler todos os dias (se possível) para conseguir superar o Vale da Desilusão e atingir o seu Platô do Potencial Latente! Esse é o segredo para conseguir entrar em um ciclo virtuoso na leitura, até que o anseio pela […]
Memorização: como internalizar o conteúdo que leio - Leitura Orgânica · 31 de julho, 2020 às 01:00
[…] vale a pena recordar o Vale da Desilusão na formação de um novo hábito. Não vemos o resultado em pouco tempo e muitas vezes acabamos […]